A presidência correu-nos bem. Tratado assinado (António Barreto diz que Sócrates foi uma “barriga de aluguer” de Merkel e, se calhar, não anda longe da verdade), cimeira UE-África concretizada e Sócrates (“o provinciano”, o próprio classificou-se) tornado num-dos-rostos-da-nova-geração-de-líderes-europeus. Na recta final, tivemos a sorte de o Kosovo não nos ter calhado na rifa. Vem aí a Eslovénia que, diga-se de passagem, deve perceber muito mais daquilo do que nós. E a seguir, a seguir, senhores e senhoras, meninos e meninas, virão monsieur Sarkozy, madame Bruni-Tedeschi e o seu discreto charme burguês. Aí, sim, é que veremos o que é espectáculo. I’m looking forward to see it. Conforme prometido, sem grande honra nem glória, o Cais da Europa fica-se por aqui. Pode ser que volte um dia destes. Pode ser que não.
segunda-feira, 31 de dezembro de 2007
A presidência correu-nos bem. Tratado assinado (António Barreto diz que Sócrates foi uma “barriga de aluguer” de Merkel e, se calhar, não anda longe da verdade), cimeira UE-África concretizada e Sócrates (“o provinciano”, o próprio classificou-se) tornado num-dos-rostos-da-nova-geração-de-líderes-europeus. Na recta final, tivemos a sorte de o Kosovo não nos ter calhado na rifa. Vem aí a Eslovénia que, diga-se de passagem, deve perceber muito mais daquilo do que nós. E a seguir, a seguir, senhores e senhoras, meninos e meninas, virão monsieur Sarkozy, madame Bruni-Tedeschi e o seu discreto charme burguês. Aí, sim, é que veremos o que é espectáculo. I’m looking forward to see it. Conforme prometido, sem grande honra nem glória, o Cais da Europa fica-se por aqui. Pode ser que volte um dia destes. Pode ser que não.
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
Para quem (como eu) acompanhou à distância a cimeira do último fim-de-semana, o happening UE-África poderia resumir-se da seguinte forma: um primeiro-ministro a aproveitar todos os pedacinhos de glória, uma chanceler que deveria encher os europeus de orgulho e dois ditadores com demasiado destaque mediático. Um deles (Mugabe), no seu território, mandou censurar um texto de Durão Barroso. O outro (Kadhafi), em território alheio, quis censurar a televisão pública. Entre um e outro, venha o diabo - e escolha.
SBL
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
A Patrícia não falou do tema de capa da edição europeia da Time desta semana, mas vale a pena olhar para ele. A tese do artigo é a de que a terra de Truffaut e de Godard, de Proust e de Camus, de Piaf e de Aznavour, de Debussy e de Ravel está, de alguma maneira, a tentar voltar a ser uma potência à escala global. A França («la France») de regresso no domínio da cultura tal como na moda, nos vinhos e na cozinha. As políticas de Sarkozy podem ser uma parte da explicação, mas o resto, parece-me, explica-se pela história da Europa do último século. Da humilhação pós-Plano Marshall à UE à procura de um lugar na geo-estratégia mundial…
SBL
sexta-feira, 23 de novembro de 2007
Com a Administração Bush a chegar ao fim, aproximam-se os dois lados do Atlântico. Não, já não é só a proverbial apetência de Nicolas Sarkozy para os ícones da cultura popular americana (ipods, t-shirts da polícia de Nova Iorque...). É a ida de Sarko à Casa Branca, é a visita da senhora Merkel ao Texas. Os líderes europeus estão a ser mais bem recebidos e, por isso, como dizia há dias a The Economist, a velha Europa está de regresso à América. Voltemos, então. Estamos perdoados.
SBL
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
Lobo Antunes (o Manuel, que isto é um blogue sobre assuntos europeus) estará agora mesmo a começar um debate no Centro de Informação Jacques Delors sobre A Informação ao Cidadão sobre a Presidência Portuguesa da UE. Pergunto, com uma pontinha de ironia: o que sabe o cidadão sobre a presidência portuguesa da UE? O que sabe o cidadão sobre a Europa?
SBL
quinta-feira, 13 de setembro de 2007
Já vai sendo tempo de voltar. O Cais continua com os mesmos marinheiros (alguns ainda estão a regressar...) e a Europa também. Depois de ir a Kiev, José Sócrates passa amanhã quatro horas em Varsóvia para averiguar do grau de probabilidade de termos ou não cimeira em Outubro. Tratado oblige.
SBL
segunda-feira, 30 de julho de 2007
Na exposição com que a Gulbenkian faz o balanço do seu cinquentenário - 50 Anos de Arte Portuguesa, até Setembro, no museu - há pequenas pérolas que valem bem uma visita atenta. É uma reunião de alguns trabalhos dos bolseiros da fundação, com as obras resultantes das bolsas atribuídas e muito material de documentação: os formulários de inscrição, as fotografias, os relatórios através dos quais os bolseiros iam dando conta do que andavam a fazer pelas ruas de Paris ou Londres. Vale mesmo a pena lê-los com atenção (não perder o de Mário Cesariny, por favor). Tivemos a sorte de ter uma fundação que concedia bolsas a artistas que andavam pela Europa e «apenas» viam exposições, assistiam a conferências, frequentavam cursos, faziam leituras e reflectiam sobre tudo aquilo que viam e/ou liam. Tivemos a sorte de ter uma fundação que se satisfazia com formulários aparentemente vagos e relatórios aparentemente desprovidos de conteúdo. Tivemos a sorte de ter uma fundação que concedia bolsas a artistas, esperando que um dia estes pudessem vir a criar uma obra-prima. Em suma, tivemos a sorte de ter uma fundação que não sofria de uma certa esquizofrenia reguladora a qual - fazendo parte da tradição europeia - parece que se revela mais nuns países do que noutros. Resta acrescentar que aqueles bolseiros até criaram bastantes obras-primas…
SBL
No doce, apesar de algo ventoso, fim de tarde da última sexta-feira, no parque que envolve o palacete de São Bento, residência oficial do primeiro-ministro, enquanto José Sócrates e o seu colega francês, François Fillon, discutiam a reforma institucional da UE, a energia e alterações climáticas, África e o relançamento do projecto Galileo, jornalistas e assessores entretinham-se em curtas conversas. Foi nessa onda que este bloguista perguntou a Marina Pimentel o que tinha vindo Fillon fazer a Lisboa. A resposta da colega da Rádio Renascença deixou-me completamente esclarecido: «A Presidência é a casa da sogra. Vem cá toda a gente.» A conversa prosseguiu e Marina quis saber o endereço do blogue dos jornalistas da VISÃO. Na companhia de David Damião, assessor de Imprensa de Sócrates, passou-se a falar de blogues em geral. Foi então que David opinou: «Isto [os blogues] devia ser regulado». Logo ali ficou claro que o jornalista emprestado a São Bento estava também atingido pela gripe da regulação. Não sabemos se ficou curado, mas a verdade é que foi sujeito a uma intensa dose de manifestações de indignação e incredulidade. Afinal, a visita de Fillon sempre serviu para alguma coisa.
PV
sexta-feira, 27 de julho de 2007
«Vamos deixar de chorar e de ser os calimeros da Europa».
José Manuel Cerqueira, director-geral da Revigrés, em entrevista ao Público de hoje
SBL
quinta-feira, 26 de julho de 2007
Segundo um estudo divulgado esta semana pela Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho (Eurofound), Portugal é o sétimo país da União Europeia onde os trabalhadores têm mais dias de férias e feriados. Eis o ranking:
Súecia: 43
Alemanhã: 40
Itália: 39
Luxemburgo: 38
Dinamarca: 38
Áustria: 37
Portugal: 36,5
(...)
Estónia: 26
Letónia: 27
Irlanda: 29
Hungria: 28
*...Ou como, afinal, em alguns indicadores, não estamos no final da lista...
SBL
terça-feira, 24 de julho de 2007
segunda-feira, 23 de julho de 2007
Nada como uma CIG (Conferência Intergovernamental) para lembrar que a legitimidade original da União Europeia reside nos seus Estados-membros. Assim, para fazer passar um novo Tratado a 27, é preciso que os cidadãos se convençam de que isso de artigos e anexos é só para iluminados. Como escreveu Miguel Monjardino no Expresso de 21 de Julho, «qualquer progresso (...) passa pelo regresso a um texto complexo e, de preferência, incompreensível para a maioria das pessoas». Se «a boa fé e o princípio da cooperação leal» destacados hoje, na abertura da CIG, em Bruxelas, pelo presidente do Conselho da UE, Luís Amado, estiverem presentes na CIG, o verdadeiro problema da Constituição reciclada em Tratado Reformador (ou Reformado ou da Reforma) virá só mesmo do processo de ratificação. Mas com a ajuda de um texto complexo e ilegível tudo se resolverá.
PV
sexta-feira, 20 de julho de 2007
Augusto Santos Silva resolveu reagir às declarações da comissária Viviane Reding: «A Comissão Europeia pode ter todas as opiniões que quiser, mas não valem mais do que a Constituição da República Portuguesa». Com toda a humildade, eu (que sempre fiz boa figura nas cadeiras jurídicas) ofereço-me para explicar ao senhor ministro o significado do primado do Direito Comunitário.
SBL
Depois do eterno «mun ami Mitérrã» de Soares, José Sócrates ensaiou um «Tóni» à lisboeta dirigido ao fleumático Blair. As elites políticas dão razão a Saramago: há um potencial ibérico de má pronúncia. Quem é que pode, agora, gozar com o «Óliber Estône» (nome atribuído pelos falantes de castelhano ao realizador de Assassinos Natos)?
PP
quinta-feira, 19 de julho de 2007
António Câmara foi um dos oradores convidados na reunião de ministros da Ciência da UE, que hoje se iniciou em Lisboa. E voltou a sublinhar aquilo que alguns ouvidos europeus continuam a preferir ignorar: no ranking das 100 melhores universidades, 80% são americanas, 20% são europeias. Por isso é que eu não percebo onde raio é que alguns europeus vão buscar coragem para falar de cima do pedestal para o lado de lá do Atlântico...
SBL
Com Lisboa em estado de sítio (helicópteros a sobrevoar a cidade, trânsito cortado e polícia por todo o lado), o jornal alemão Tageszeitung publicou uma entrevista com Mário Soares. E é delicioso ler as maldades do «velho» Soares ao defender que teria sido bem melhor se Angela Merkel tivesse conduzido até ao fim as negociações do tratado: «A Alemanha, como maior país da União Europeia, passou a bola a um país pequeno e relativamente fraco, em vez de a enfiar na baliza». Se Sócrates não for bem sucedido, acha Soares, «deixará de haver Europa». Começará agora o primeiro-ministro português a ficar angustiado com os pontas-de-lança polaco e britânico?
SBL
quarta-feira, 18 de julho de 2007
terça-feira, 17 de julho de 2007
Faltou-me, no post anterior, confessar outra das razões para a minha falta de optimismo em relação à Turquia. Posso ir directa ao assunto? Estou farta de ver europeístas recordar que já iniciámos negociações, que a Turquia já fez enormes progressos, que agora não podemos defraudar os turcos… Mas estou ainda mais farta de - com os microfones desligados - os ouvir dizer «jamais» em tempo algum. Seja pragmatismo, cinismo ou what ever, parece-me que com líderes destes mais vale a bicicleta de Delors (a imagem era qualquer coisa como «a Europa é uma bicicleta e, quando não se pedala, cai no chão») estar parada por uns tempos à espera de conserto. A propósito, há bicicletas na Turquia?
SBL
segunda-feira, 16 de julho de 2007
APRENDER COM OS DERVIXES
Há duas más maneiras de negar um bom debate. No caso da Turquia, para mim, o bom debate é este: o que temos a ganhar com a adesão de tantos milhões (em crescimento rápido), de fronteiras tão mal frequentadas (Iraque, Irão, Síria, chegam?) e com uma religião maioritária tão, digamos, politicamente incorrecta. Negar este debate tem sido o maior entretenimento europeu dos últimos anos (em segundo lugar está outra negação, a do referendo ao tratado). Além do medo (vem aí o Islão, vem aí a imigração), José Saramago dá-nos uma variação de termos pouco subtil: «Tenho uma opinião muito clara - que não sei se é exacta ou equivocada - de que a Turquia não tem nada a ganhar com a entrada na União Europeia.» (DN de Domingo). Eu não só acho que a Turquia já ganhou, muito, com a sua dieta legislativa pró-europeia, como defendo que a Europa ganharia muito mais ao assumir-se como um projecto de democracia que incluisse o bom gigante refundado por Attaturk. Não vale a pena discutir a geografia nem a herança cultural (Heraclito era asiático ou europeu? A Ilíada passa-se na Europa ou num continente distante?). A Turquia é o assunto político mais interessante desta Europa. Ainda que a liderança europeia não saiba como lidar com tamanha responsabilidade. Alguém devia lembrar a Sarkozy e aos senhores Kaczinski que a dança dos dervixes não é para aprendizes.
PP
sexta-feira, 13 de julho de 2007
O Valèry apareceu, graças ao meu bom anjo da guarda. Quanto aos francófonos que o Paulo pôs a cirandar por Istambul, o que eu gostava mesmo é que eles me revelassem uma forma mais optimista de ver a questão turca. No outro dia, à minha frente, aqui na redacção, pendurou-se um mapa da Europa (sim, senhor ministro da agricultura, nós aqui somos convictamente europeus). Desde então que, quando olho em frente à procura da palavra certa (se é que isso existe...), a vejo: a Turquia, os seus 70 milhões de habitantes, as suas fronteiras... E mais me convenço que a coisa só lá vai com um grande «véu da ignorância» (John Rawls) a zelar pelas nossas cabeças. É preciso lembrar a argumentação usada pelos bizarros gémeos polacos na recente cimeira de Bruxelas? É preciso lembrar que ainda há quem faça questão de recordar o sangue que, não há muito tempo, para aqui houve?
SBL
Com a autoridade de quem conhece os cantos à casa, Luís Marinho, antigo deputado europeu, admitiu que Portugal não consiga fechar o novo tratado e que a sua aprovação acabe por escorregar para a Presidência francesa, na segunda metade de 2008. Luís Marinho, que falava na Universidade Lusíada, hoje, sexta-feira, 13, numa sessão do Fórum Europa sobre a dimensão social do novo Tratado, organizada pela eurodeputada Jamila Madeira e pelo assistente Bernardo Gomes da Silva, lamentou ainda o abandono do «tratado mãe» elaborado pela Convenção sobre o Futuro da Europa.
PV
’Trabalho digno’
No colóquio sobre «Um Tratado de Dimensão Social», na Universidade Lusíada, hoje, sexta-feira, 13, o ex-ministro e ex-eurodeputado Medeiros Ferreira deplorou a incapacidade da União Europeia para exportar e impor ao mundo o modelo social europeu. «Estamos numa atitude defensiva. Não somos dignos dos nossos maiores», disse. E aproveitou para sugerir ao embaixador da República Checa, Ladislav Škeřík, que na Presidência da UE, no primeiro semestre de 2009, o seu país promova uma cimeira da UE com a OIT (Organização Internacional do Trabalho), tendo por tema o «trabalho digno».
PV
quinta-feira, 12 de julho de 2007
Não era da sua lavra mas, se fosse, com certeza que o presidente da Comissão, Durão Barroso não desdenharia a hipótese de assinar a carta aberta dos dez ministros dos Negócios Estrangeiros dos países do arco mediterrânico dirigida a «cher Tony», na qual apoiam a missão de paz de Blair para o Médio Oriente. A carta não terá agradado a Berlim e ao Alto Representante Solana, mas depois da cimeira de guerra dos «Azores» com Bush, Aznar e, claro, Blair, uma missiva de paz viria mesmo a calhar para Barroso. Seria também uma maneira de retribuir ao ex-primeiro-ministro britânico o piropo de há menos de três meses. Tony Blair disse numa entrevista que «o presidente Barroso devolveu dinamismo e credibilidade à Comissão». Publicada no jornal Le Monde datado do último dia 10, a carta aberta também foi assinada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado.
PV
quarta-feira, 11 de julho de 2007
«Os portugueses já disseram mil vezes que querem estar na Europa, ao votar por sistema nos dois partidos que fazem da opção europeia um objectivo estratégico e que coincidem na sua visão de uma Europa forte e integrada politicamente (por oposição a uma Europa das pátrias ou do mercado) como a que melhor serve os interesses do país. (...) Sobra a tentação populista, a doença que hoje afecta as democracias europeias, mas que, nesta matéria, é um risco com um preço demasiado alto».
Teresa de Sousa in Público
Para quê dizê-lo se há quem o diga muito melhor do que eu?
SBL
terça-feira, 10 de julho de 2007
Para uma parte significativa da União Europeia, a Turquia não é a questão mais importante. Para uma parte significativa da União Europeia, composta pelos antigos países de Leste, o grande problema está na fronteira a Oriente, agora presidida por esse estadista que não precisa de lições de democracia de ninguém (Sócrates dixit) chamado Putine. Para esses europeus, o inimigo é o mesmo que antes estava para lá das Portas de Brandenburgo e que, em As Vidas dos Outros (um filme que todos deviam ver, em Lisboa acho que ainda está em cartaz), espiava vidas públicas e vidas privadas. Às vezes, andamos tão entretidos connosco próprios que nem sequer conseguimos ver para além do nosso umbigo.
SBL
segunda-feira, 9 de julho de 2007
Na semana passada, o ministro da Agricultura português foi à lota de Matosinhos com o comissário europeu das pescas, Joe Borg, tendo sido recebido por uma chuva de protestos de um grupo de pescadores. Quando um sindicalista lhe falou das consequências da adesão comunitária para o sector, Jaime Silva virou as costas, não sem antes responder-lhe: «Peça para sair da União». Isto é assim, à vontade do freguês? Ou isto é apenas pura inabilidade política?
SBL
Enquanto José Sócrates está em Downing Street, Nicolas Sarkozy participa na reunião do Eurogrupo, que reúne os ministros das Finanças da zona euro. Se há dias o Guardian chamava ao primeiro-ministro português «o George Clooney de Lisboa», eu hoje também posso cometer a heresia de dizer que há qualquer coisa de Kennedy no novo presidente francês. Está provado que Sarkozy tem «star quality», mas não é apenas uma nova imagem «de la France» (é preciso encher bem a boca para dizer «la France» com todo o seu significado…) que ele traz consigo. Veja-se o descapotável em que se passeou na tomada de posse, vejam-se as imagens da família nada exemplar (os meus, os teus e os nossos filhos), vejam-se as fotografias do casal a passear-se à beira-mar… Ainda que nada discreto, Sarkozy tem o charme de uma certa burguesia europeia que também podia ser o charme de uma certa burguesia americana.
SBL
domingo, 8 de julho de 2007
Istambul (vista para a Torre Galata, em Beyoglu, bairro europeu). Tenho dois francófonos para a troca pelo Valèry da Sara: Pierre Lotti e JJ Rousseau. O primeiro escondeu-se aqui, consta que por amor; o pai do segundo, o relojoeiro Isaac, viveu aqui e tem uma placa evocativa em Galata. Lotti é sinónimo da mais bela vista do Corno D'Ouro. Rousseau é a principal referência do pensamento Kemaliano - ainda hoje a mais influente corrente política secularista de todo o mundo islãmico. Se não é a mais bela das capitais europeias, é pelo menos a mais parecida com Lisboa.
PP
sexta-feira, 6 de julho de 2007
Como em quase tudo o que é bom na vida, também nas relações laborais o truque está na partilha. It takes two... O «modelo» da flexigurança impõe, digamos assim, a negociação. Micro (nas empresas, entre trabalhadores e patrões) e macro (entre Governo e sindicatos). Recordemos que o «pai» da ideia, Poul Nyrup Rasmussen, antes de ser primeiro-ministro social-democrata foi sindicalista. E que a co-gestão é uma experiência que funciona na Dinamarca, porque é boa para todas as partes. A força da ideia reside aí: só se alcançam bons resultados se todos com eles ganharem. Em Guimarães estiveram 27 ministros numa sala e 25 mil manifestantes à porta. Uns e outros parecem muito distantes da dose de responsabilidade que seria necessária para um acordo deste tipo. Assim sendo, se ninguém quer, de facto, negociar, há uma velha tradição nas lutas laborais: o braço de ferro. Aceitam-se apostas sobre quem ganha, no final.
PP
Era preciso um novo tratado. Há quem diga que tudo podia funcionar (e bem) com Nice. Como em política aquilo que parece é, bastava a percepção de uma crise para que esta se convertesse na mais real das realidades. Por isso, haja ou não um verdadeiro impasse institucional na União, era preciso um novo tratado. Angela Merkel conseguiu-o, provando (como diz a edição desta semana do The Economist) ser «uma campeã na arte do possível». Inteligente na liderança, hábil na gestão dos consensos, imbatível na capacidade de (discretamente) ultrapassar o adversário. Talvez fosse ela a única que, neste momento, em toda a Europa, estava em condições de o conseguir. Mas, apesar de todas as capacidades da chanceler alemã (que admiro, diga-se de passagem), teria ela conseguido caso não fosse líder de um dos «grandes»?
SBL
quinta-feira, 5 de julho de 2007
O berço da flexigurança
PP
Com a Presidência da União Europeia, multiplicam-se as afirmações de apoio à integração europeia e ao aprofundamento da Europa dos Cidadãos. Partilho por inteiro desses sentimentos de adesão ao projecto europeu. Mas isso não significa que aceite que o primeiro-ministro José Sócrates queira varrer a questão do referendo ao novo Tratado para baixo do tapete ou que o ministro das Finanças Teixeira dos Santos adie para as calendas gregas a resposta à questão do IVA indevidamente cobrado na compra de automóveis. Se o Tratado Reformador é urgente, se a cimeira União Europeia-África é urgente, se a Estratégia de Lisboa é urgente, o respeito pelas normais e justas expectativas da população não é menos urgente. Por isso, meus senhores, apesar de a Presidência ainda ir no adro, de retórica já temos que chegue. Agora tentem descer à terra dos cidadãos e dos seus direitos.
P.V.
quarta-feira, 4 de julho de 2007
Há muito tempo li um texto de Paul Valéry que se chamava qualquer coisa como «o espírito europeu». Lembro-me dele de vez em quando e até já o tentei encontrar (sem grande êxito, dão-se alvíssaras a quem o encontrar…). Como bom francês, Valéry defendia que o espírito europeu se baseia sobretudo em três pilares: o legado grego, o legado romano e o legado cristão. Se por mero acaso um assessor de Sarkozy (que hoje está em Lisboa para a cimeira UE-Brasil) o descobrir, estão ali alguns dos argumentos anti-adesão turca. Bastarão para, nos dias de hoje, dizer «jamais»?
SBL
segunda-feira, 2 de julho de 2007
O embaixador de Portugal em Brasília, pela forma como empunhou a bandeira da Presidência Portuguesa no Brasil, bem pode ser apelidado de «novo bandeirante». Assim, além de um vasto programa cultural para assinalar o início do semestre da Presidência, Francisco Seixas da Costa pôs «brazilienses» a olhar para cima, não para o azul do céu mas para o azul da Europa. Com efeito, um zeppelin com os símbolos da Presidência Portuguesa flutua sobre os edifícios onde as iniciativas culturais e académicas levadas a cabo em Brasília pela Embaixada de Portugal têm lugar.
PV
O Margens de Erro publicou uns dados muito curiosos que demonstram o modo como as anteriores presidências (1992 e 2000) não foram brilhantes para Cavaco e Guterres. Entre o início e o fim dos semestres, as descidas de popularidade de ambos são abismais. Quase queda livre. Nós aqui no Cais da Europa podemos arriscar e dizer aquilo que a prudência e o rigor científico de Pedro Magalhães não permitem: Sócrates que se cuide.
SBL
domingo, 1 de julho de 2007
Orquestra Nacional do Porto e Elisabete Matos na Casa da Música, vinho do Porto e bacalhau servido por Rui Rio. Sócrates foi apupado; Barroso, aplaudido. «Arrancar» tornou-se no verbo mais ouvido no Dia 1 da presidência portuguesa. Os jornais escreveram-no primeira página, as televisões repetiram-no à exaustão. Só me pergunto o que é que eles pretendem de facto «arrancar». Couves de Bruxelas, flores da lapela ou cabelos uns aos outros? O primeiro-ministro já deve estar a rezar para que os gémeos polacos estejam mas é quietinhos... Este foi o primeiro dia do resto das nossas vidas.
SBL