segunda-feira, 16 de julho de 2007



APRENDER COM OS DERVIXES

Há duas más maneiras de negar um bom debate. No caso da Turquia, para mim, o bom debate é este: o que temos a ganhar com a adesão de tantos milhões (em crescimento rápido), de fronteiras tão mal frequentadas (Iraque, Irão, Síria, chegam?) e com uma religião maioritária tão, digamos, politicamente incorrecta. Negar este debate tem sido o maior entretenimento europeu dos últimos anos (em segundo lugar está outra negação, a do referendo ao tratado). Além do medo (vem aí o Islão, vem aí a imigração), José Saramago dá-nos uma variação de termos pouco subtil: «Tenho uma opinião muito clara - que não sei se é exacta ou equivocada - de que a Turquia não tem nada a ganhar com a entrada na União Europeia.» (DN de Domingo). Eu não só acho que a Turquia já ganhou, muito, com a sua dieta legislativa pró-europeia, como defendo que a Europa ganharia muito mais ao assumir-se como um projecto de democracia que incluisse o bom gigante refundado por Attaturk. Não vale a pena discutir a geografia nem a herança cultural (Heraclito era asiático ou europeu? A Ilíada passa-se na Europa ou num continente distante?). A Turquia é o assunto político mais interessante desta Europa. Ainda que a liderança europeia não saiba como lidar com tamanha responsabilidade. Alguém devia lembrar a Sarkozy e aos senhores Kaczinski que a dança dos dervixes não é para aprendizes.

PP

1 comentário:

Tiago Ramos disse...

É realmente uma incógnita o caso da Turquia.